Rússia cria mensageiro estatal para reduzir dependência de WhatsApp e Telegram

A Rússia avança na criação de um aplicativo de mensagens estatal, com apoio do governo e do parlamento, para enfraquecer o domínio do WhatsApp e Telegram e reforçar sua “soberania digital”. Em 10 de junho de 2025, deputados da Duma aprovaram em primeira leitura um projeto de lei que prevê o desenvolvimento de um mensageiro nacional, integrado a serviços públicos, com recursos de mensagens, chamadas e uma interface unificada para acesso a dados governamentais – uma combinação ainda não oferecida por rivais internacionais.

O projeto, idealizado por Anton Gorelkin, vice-presidente da comissão de política da informação, aguarda agora aprovação no Senado e sanção do presidente Vladimir Putin.

O ministro do Desenvolvimento Digital, Maksut Shadayev, destacou que o Estado busca reduzir dependência de plataformas estrangeiras, especialmente após várias empresas de tecnologia ocidentais abandonarem o país com as sanções pós-2022.

A estatal VK – responsável pela rede social VKontakte e outros produtos como o “VK Vídeo” – está envolvida no projeto. Em 2024, porém, a empresa reportou prejuízo de 94,9 bilhões de rublos, destacando os desafios financeiros por trás da iniciativa . Apesar disso, as autoridades planejam lançar um mensageiro com funcionalidades estendidas, como integração total ao sistema público, algo que Telegram e WhatsApp não oferecem.

Especialistas como Mikhail Klimarev, da Internet Protection Society, alertam que, com a eventual priorização do app estatal, o governo pode reduzir a velocidade ou acessibilidade de plataformas estrangeiras, ameaçando liberdades individuais no país.

O movimento faz parte de uma tendência mais ampla: já em 2023, Rússia proibiu servidores públicos de usar WhatsApp, Telegram e outros serviços estrangeiros, como parte da Lei de Informação, Tecnologia da Informação e Proteção de Informação.

A consequência foi a aceleração de esforços para promover softwares e mensageiros domésticos, em linha com o objetivo de “licenças digitais” e diminuição da dependência de infraestrutura estrangeira.

A iniciativa russa se insere no cenário global de reforço ao controle sobre plataformas de comunicação – desde a atuação de autoridades chinesas com WeChat, até tentativas de países europeus em regular gigantes das mensagens. No entanto, em solo russo, a integração com sistemas governamentais representa um passo concreto rumo a uma nova realidade digital, onde dados, comunicações e serviços públicos estarão centralizados em uma única plataforma estatal.

Caso o projeto avance, a ferramenta deve ganhar amplo uso entre servidores públicos, bancos estatais e em processos de identificação digital, como parte do programa de transformação digital do Kremlin. Resta ainda esperar as próximas fases legislativas – Senado e sanção presidencial – para analisar os impactos sobre privacidade, competitividade e pluralidade de comunicação em território russo.